Suspeitas sobre refinaria e ameaça de CPI sobre Petrobras levam Planalto a criar operação de blindagem à Dilma
Para evitar desgaste eleitoral, governo busca comparar caso com o do suposto cartel no metrô paulista e inviabilizar investigação
Expansão do setor petrolífero (na foto, produção do primeiro óleo do pré-sal, no campo de Jubarte, em 2008) sempre foi uma das marcas dos governos do PT.
Foto: Ricardo Stuckert / PRFoto: Ricardo Stuckert / PR
Dilma Rousseff sequer conseguiu comemorar a larga vantagem na última pesquisa eleitoral. A presidente sabe que a turbulência da Petrobras pode arranhar sua imagem de gestora, com prejuízos em outubro.
No caldeirão, estão um contrato bilionário e nebuloso para compra da refinaria de Pasadena, no Texas, um ex-diretor da estatal preso em uma operação contra lavagem de dinheiro, denúncias de pagamento de propina e a ameaça da criação de uma CPI no Congresso.
O Planalto definiu o contragolpe e deixa claro que as denúncias fazem parte do cenário eleitoral. Escalou sua tropa de choque para usar o caso do cartel no metrô em São Paulo, nas gestões do PSDB, como escudo para ataques da oposição sobre a petroleira.
— Vamos colocar no tatame Alstom/Siemens versus Petrobras — afirma um estrategista palaciano, apesar de empresas públicas sob gestão do governo federal, como a Trensurb, também estarem sendo investigadas.
O PT aposta em comparações entre os escândalos para não deixar somente a estatal como alvo. A orientação foi disseminada entre parlamentares e militantes das redes sociais, escalados para travar o embate virtual.
O governo também trabalha para inviabilizar investigações. O primeiro golpe partiu de aliados descontentes, o chamado blocão. O grupo de parlamentares liderados pelo PMDB aprovou a criação de uma comissão externa para apurar o pagamento de propina pela empresa holandesa SBM Offshore para funcionários da petroleira brasileira.
Nota oficial da presidente foi considerada desastrada
Como o Planalto conseguiu esvaziar o blocão, a preocupação, agora, é abortar uma possível CPI. Porém, mesmo essa estratégia poderá trazer prejuízos diante do coquetel de denúncias, o que faz os petistas avaliarem o impacto da operação abafa.
— Controlamos o Congresso, mas não a sociedade, que vai perguntar: por que não quer investigar? Só vai alimentar o desgaste nas ruas e nas redes sociais — avalia um habitué das reuniões do núcleo duro do governo.
Em outra frente, conselheiros de Dilma tentam reverter o desgaste da imagem de boa gestora desencadeado após a divulgação de uma nota, considerada desastrada. A petista afirmou ter se baseado em um relatório “falho” para aprovar o negócio da refinaria de Pasadena, em 2006, quando ela presidia o conselho de administração da Petrobras. O fato foi explorado por Aécio Neves (PSDB), hoje o principal adversário de Dilma na eleição.
— Não dá novamente para fazer aquilo que se tornou um mantra em todas as denúncias que ocorrem em relação ao PT: terceirizar responsabilidades, “eu não sabia”. Quais foram as razões pelas quais a presidente da República, especialista na área de minas e energia, tomou uma decisão tão danosa? — disparou.
A crítica de Aécio encontrou eco em outro pré-candidato ao Planalto. O pernambucano Eduardo Campos, do PSB, cobrou pelo Twitter explicações sobre a aquisição da refinaria:
— Que tipo de gestão aprova um negócio assim sem analisar exaustivamente as informações disponíveis?
Diante do equívoco da nota, o silêncio passou a imperar nos corredores do Planalto. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, montou uma operação para que os líderes do governo esquecessem a declaração de Dilma e saíssem em defesa da compra da refinaria, na tentativa de justificar que a aquisição foi um bom negócio. Mercadante só não contava com uma nova bomba.
Ex-diretor preso teria destruído computadores
Enquanto o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), falava para um plenário vazio, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa era preso pela Polícia Federal. A operação Lava-Jato desmontou uma quadrilha responsável por lavagem de recursos ilícitos no montante de R$ 10 bilhões.
Sozinha, a prisão já seria um estrago. O agravante: Costa foi um dos mentores do parecer criticado por Dilma, e é investigado pelo Ministério Público Federal justamente por irregularidades na compra da refinaria. E o pior: há suspeitas de que ele teria destruído computadores com informações privilegiadas da aquisição.
Estatal na mira
— Pasadena: em 2006, Dilma aprovou a compra de 50% da refinaria americana pela Petrobras, por US$ 360 milhões. Mais tarde, por cláusulas contratuais, a estatal teve de adquirir o restante. O negócio de US$ 1,18 bilhão, cerca de
R$ 2,76 bilhões, está sob investigação.
— Holanda: a Câmara criou comissão externa para investigar denúncia de pagamentos de propina a funcionários da Petrobras. O dinheiro teria sido repassado pela empresa holandesa SBM Offshore, para compensar contratos para locar plataformas de petróleo.
— Lava-Jato: operação da Polícia Federal apontou quadrilha suspeita de lavar R$ 10 bilhões. Foi preso o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, com R$ 1,16 milhão em dinheiro vivo. Ele também é investigado pela compra da refinaria de Pasadena.
— CPI: a oposição se reúne na terça-feira, em Brasília, para obter o apoio necessário, de 27 senadores e 171 deputados. Segundo o PPS, 102 deputados já assinaram o pedido. Senadores também pedirão ao Ministério Público para apurar a compra de Pasadena.
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