A monumental nuvem de cinzas provenientes da erupção do vulcão chileno Puyehue deve atingir Braxília nas próximas horas, estacionar sobre o Congresso Irracional, afunilar como se fora um tufão às avessas e invadir os pulmões da Câmara (de Gás) dos Deputados e do Senado Celerado, penetrando as ventas dos congressistas, provocando uma intoxicação maravilhosa, faxina só comparável à peste negra na Idade Média.
A visão da catástrofe (ou seria “assepsia”?!) foi a mim revelada por uma cigana obesa com vestido de chita (até então, eu me borrava de medo dos ciganos) e prevê que a fumaça vulcânica deva chegar ao Plano Pilates na quarta-feira, dia da semana em que a maioria dos senadores e deputados finalmente dá as caras na cidade, tomando cafezinho nos subterrâneos, fazendo conchavos, xavecando a mulherada e vendendo suas almas ao diabo.
Se Deus quiser (palavras ditas, não por mim, mas pela gorducha sensitiva), a atmosfera venenosa vai invadir o espaço aéreo daquele prédio público, ceifando a vida dos vendidos. Sobrarão apenas os parlamentares éticos de moral ilibada (bonito, não?!). Ou seja, uma espécie de “imunidade parlamentar do bem” garantirá a vida dos raros homens honestos que circulam naquele antro oficial. Os demais cidadãos de Braxília nada devem temer, tampouco se apavorar com este curioso fenômeno da natureza. O enxofre, os metais pesados e outros venenos letais flutuantes no ar tão somente adentrarão as narinas dos deputados e senadores picaretas, principalmente aqueles de bigode aparado, gel nos cabelos, fala mansa, que jamais se dignaram largar o osso. Não me perguntem por que a preferência do pó? Tudo faz parte da total falta de lógica das premonições, presságios e visões oníricas no mundo inteiro. O Homem, criatura frágil e ignorante, em tudo crê.
Como num filme surrealista do Diretor espanhol Buñuel, os parlamentares de mau caráter não conseguirão deixar as dependências do prédio, impedidos por uma força invisível, descomunal, desconhecida (enredo muito parecido ao do filme “O Anjo Exterminador”, 1962). Os poucos homens probos sairão pelas portas de vidro blindex da frente, entrarão em seus carros chapa-branca e retornarão aos seus lares sãos e salvos, com gasolina paga pelos contribuintes (sem contar os ternos Armani e jetons).
Este incrível prenúncio de faxina moral poderá soar como devaneio, falta de criatividade deste cronista, ou piada de mau gosto contra os canalhas apegados ao Poder em Braxília. Não. Não se trata de escárnio, intriga, difamação e falta de patriotismo. Durante o sono, a cigana cochichou em meu ouvido, como se fôssemos congressistas adversários negociando votos em plenário.
No sonho que tive, a tosca vidente com barba no rosto foi clara e incisiva (igualzinho um político mentindo num discurso): “A nuvem tóxica vem aí, advinda do miolo da terra, uma fumaça densa proveniente da caldeira do capeta e assoprada pelos lábios do próprio Deus, a fim de se fazer justiça aqui neste país. Aqui se faz, aqui se paga, nem que às custas de 20% de propina”.
Na parte em que a cigana pedia 50 pratas para ler as linhas na palma da minha mão, eu acordei (já não é demais o absurdo de impostos pagos ao Governo?!). Obnubilado como um cantor de reggae, constatei que estava hospedado num hotel em São Paulo. A última coisa da qual me lembro é que eu lia um livro de poemas do escritor cuiabano-candango Nicolas Behr (este existe mesmo; podem pesquisar na internet).
Pensei que os olhos estavam embaçados, mas tinha entrado muita fumaça dentro do quarto. Tive um pânico ligeiro ao pensar que o prédio pudesse arder em chamas. Coloquei a cabeça pra fora e enxerguei a multidão em passeata pela Avenida Paulista. Autorizada pelo Supremo Tribunal de Justiça, a Marcha da Maconha acabara de passar por ali. Olhem, leitores, o pessoal tava super animado.
POR EBERTH VÊNCIO
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