terça-feira, 31 de maio de 2011

Espelho meu, espelho meu - O amor segundo Justin Johnson

"Haverá alguém mais belo do que eu? – pergunta o monstro à bela no espelho. “Só depende da perspectiva” – responde o espelho. Surpreendentes as semelhanças. Depois de ver estas imagens damos certamente graças à diversidade biológica por o mundo não se ter transformado num circo de bizarraria. I’m dating myself é uma ilustração (ou conjunto de ilustrações) de que “todos diferentes” é muito melhor do que “todos iguais” - de um ponto de vista estético, claro.

dating myself

Estar apaixonado por nós próprios tanto pode ser uma coisa saudável como pode ser o cúmulo do narcisismo. Ter uma destas fotos num passe-partout ao pé da cama seria como beijar o nosso reflexo no rio – obsessão condenada pela moral e possível auto-implosão do ego. Narciso dá voltas na corrente. São imagens simbolicamente perversas e, no entanto, revestidas de comicidade e de uma certa naturalidade. São uma espécie de uma projeção virtual onanista. Algo assim. Talvez masturbação mental. Bom… de qualquer forma, “se eu não gostar de mim, quem gostará?”

dating myself

Claro, a auto-estima é essencial para o nosso bem-estar e condição sine qua non para corresponder às nossas necessidades sexuais – ou seja, é como um boomerang que projetamos inconscientemente no escuro social e que porventura traz alguém agarrado na volta – com uma lanterna na mão, de preferência. Assim se pode comparar a auto-estima na cegueira da paixão.

dating myself

Auto-estima, não obsessão. Mas afinal, quem é a pessoa que pode corresponder mais fielmente às nossas expectativas românticas, ao nosso desejo de encontrar a/o tal, aquela ou aquele com a qual nos identificamos na totalidade, a nossa cara-metade? Poderá haver maior afinidade com alguém, outrem, do que connosco mesmos? E se encontrássemos a pessoa das nossas vidas numa versão do sexo oposto de nós mesmos? Eu no feminino, eu no masculino. Talvez convidássemos “essa pessoa” para beber um drink, conversar um pouco sobre aqueles assuntos específicos que adoramos conversar, partilhar as mesmas ideias, sussurrar ao ouvido as nossas paranóias e obsessões, e, quem sabe, ir um pouquinho mais longe… “Não! Gosto de mim como amiga/o, não quero mais nada comigo”. Auto-estima, não obsessão.

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É claro, tudo isto não passa de uma brincadeira. I’m dating myself (Estou namorando comigo própria/o) é um blog fotográfico criado por Justin Johnson, em 2010, onde photoshopers – esses mágicos das imagens, criadores de ilusões, manipuladores da realidade – reconstroem ambientes onde eles mesmos ficam em sintonia romântica com os seus clones digitais – fotos de romances que só podem dar certo. São casais perfeitos em que a semelhança entre ambos ultrapassa qualquer questão de identidade e a sensação de equilíbrio, balanço, parece desabrochar perante o nosso olhar confuso, onde algo parece escapulir ao primeiro impacto. Serão, mesmo que excêntricos, os verdadeiros “casais-maravilha”!

É de fato uma brincadeira de gosto duvidoso. Mas confessemos: esta estranheza tem sex-appeal, e só aquele ou aquela cuja face foi digitalmente esquartejada pode reclamar ofensa. O site classifica-se como “um blog estúpido dedicado a casais que inexplicavelmente partilham a mesma cara”. Ironicamente sem confirmar nem desmentir que existe Photoshop envolvido nestas maravilhosamente estranhas produções, Justin apela ao bom senso dos leitores para tomarem tal decisão.

dating myself

Violar aquela maravilhosa fotografia onde perpetuamos toda a paixão de um momento inesquecível é o princípio básico para participar nesta comunidade de self-lovers. Substituir a bela face da nossa/o namorada/o pela nossa própria (e belíssima) face não requer um domínio extraordinário em Photoshop (ou qualquer outro programa semelhante) – apenas uma dose de paciência, uma pitada de originalidade e sorte q.b. na escolha da foto (ou fotos), tudo envolto em maior ou menor perfeccionismo. Nada como tentar e sentir a confusão perversa dos resultados. E rir. Essa é a principal função disto. Ou achar bizzaro e fechar os olhos – segunda função.

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Pessoas solitárias, desprovidas de fotos adequadas ou indivíduos pudicos podem também manipular fotos de celebridades (reais ou de animação), por vezes com resultados fantásticos:


Os Sex Pistols têm uma música que ilustra de alguma forma este paradoxo egocentrado. A letra segue assim: “I got no emotion for anybody else; You better understand I’m in love with myself; Myself – My beautiful self” (“Não tenho emoções por mais ninguém; Entende que estou apaixonado por mim próprio; Por mim próprio – O meu belo Eu”) (No feelings, Sex Pistols). Este sim, este parece estar obcecado!


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Fonte: Obvious

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